O que aprendi com o ecossistema de inovação de Israel e por que vai muito além das startups

Por Vinícius Alves, head de prospecção DezQuatroTrês 

Poderia ir para o clichê e falar sobre os termos israelenses que você vai encontrar em livros como Startup Nation (de Dan Senor e Saul Singer) ou em qualquer conversa com alguém inserido no ecossistema de startups de Israel; expressões que exemplificam o “jeito israelense” de ser e pensar.

Mas vou me ater ao que senti, ao que vem de dentro, porque isso é o que eu acredito que teria de mais valioso para compartilhar com vocês. 

Já aviso ao leitor que, aqui, vou misturar, religião, sensibilidade, espiritualidade, empreendedorismo e sucesso. E traçar um paralelo com vivências que tive em outros países, também viajando para conhecer seus ecossistemas de empreendedorismo e inovação.

Imersão em Israel



Antes de ir para Israel, o meu contato com a religião judaica era pequena, apenas por intermédio de alguns amigos da faculdade e da escola, localizadas em São Paulo, capital. Mas, além de saber sobre algumas das restrições alimentares e que existiam datas comemorativas diferentes da maior parte dos cristãos, eu sabia muito pouco.

A primeira coisa que me marcou nessa viagem foi uma sabedoria oculta em hábitos judaicos que antes eu não havia notado: a ideia do Shabat, ou Sabá, de estar presente com a família; não comer alguns tipos de carne (que eu, como vegetariano, vim descobrir os benefícios no decorrer da vida) e de misturar leite com carne - o que também evito fazer -; o símbolo de proteção que existe em grande parte das residências e estabelecimentos comerciais, o Mezuzá, e assim por diante.

Aqui não cabe dizer se você também concorda que essas são coisas interessantes ou não. O que quero mostrar é que, em poucos dias, comecei a notar costumes próprios do local em que eu estava, pois eles estavam presentes e representados em todos os lugares.
Eu estava emergindo no ecossistema de inovação, com todas as visitas a empresas e hubs que eu estava fazendo, mas sem perceber, eu estava emergindo em muito mais.



“O povo judeu é um povo que lembra”, disse nosso guia, certa vez. Essa característica de olhar para trás e lembrar das suas raízes, é o que eu acredito que fez com que, em menos de 100 anos, Israel tenha ido de algumas poucas famílias fundadoras para uma nação tecnológica de 9 milhões de habitantes.

A diversidade cultural das pessoas em Israel é notável. Quase a maior parte dos empreendedores com quem eu conversei vem de algum lugar que não Israel, ou pelo menos os pais vieram.

É um país muito novo, e essa característica CULTURAL de se ver e de se LEMBRAR como um povo, com seus costumes e rituais específicos (lembra que eu mencionei alguns acima?) é o que pode ter ajudado nesse desenvolvimento tão veloz.

Um ótimo exemplo disso é o renascimento da língua hebraica, uma língua morta, que foi “ressuscitada” por ter sido escolhida como a língua mãe da nação que estava para nascer.

O que isso tem a ver com startups?

No dia 19 de agosto, em pleno Shabat, lá vou eu para o muro das lamentações. Confesso que estava um pouco nervoso, sabia que teriam muitos judeus ortodoxos e não queria de forma alguma ser o estrangeiro "perdido" que, por algum motivo, está infringindo alguma tradição ou costume sagrado pela forma de estar se vestindo ou se comportando.

No final, fui acolhido de uma forma que jamais poderia ter esperado antes, no meu pré-julgamento. Peguei meu kipa na caixinha que fica em frente à área que leva ao muro e segui o movimento de pessoas que se locomoviam em direção ao local de prece.

Após ter chegado em frente ao muro, a primeira coisa que me atingiu foi a energia daquelas pessoas: a alegria. Parecia realmente que estavam celebrando algo muito caro para eles.

Enfim, me aproximei do muro, fiz a minha prece e saí. Antes de subir a rampa e voltar à praça, em nível mais elevado, onde algumas pessoas observavam toda a movimentação em frente ao muro, fiquei parado e olhei ao meu redor.



Ali, vi pessoas de todas as idades, de bebês a idosos, falando línguas diferentes, com vestimentas que variavam do terno e chapéu do ortodoxo a alguém que parecia que tinha acabado de sair de um passeio casual no shopping. Mas todos ali, naquele momento, tinham o mesmo objetivo em mente.

Essa energia de UNIÃO colocada em movimento, gerava uma força que fazia tempo que eu não sentia em um ambiente. Uma conexão; naquele momento, independente do quão cheio ou cansativo tinha sido o dia, parecia que havia um motivo de estar ali.

Esse é o efeito que mais tarde conclui ser o que as grandes culturas (empresariais) deveriam ter em comum. O poder de atração e de te fazer sentir PARTE de um todo, algo maior do que você.E digo que esse momento foi tão marcante pois eu não sou religioso, não sou judeu e não comemoro o Shabat, e mesmo assim pra mim foi um momento incrível que eu nunca vou esquecer.

A cultura posta em prática

O mundo dos negócios já passou por alguns booms relacionados ao tema Pessoas. Já tivemos a época das áreas de RH mais robustas, a fase da Cultura, e agora falamos de benefícios que retenham novos talentos dentro do estilo de vida das novas gerações. Mas esse sempre foi um desafio. Se, às vezes, é um desafio  alinhar o caminho a seguir com uma equipe de 5 pessoas, imagina uma nova nação?

O que essa cultura inclusiva de Israel faz, de uma forma geral, é reforçada por outras características, também peculiares do povo israelense (como o serviço militar obrigatório, que literalmente faz com que você possa estar sendo liderado por uma pessoa que depois você vai encontrar vendendo sorvete em uma barraquinha de praia, ou em outras situações normais do cotidiano). Isso cria um alto grau de informalidade nas relações.

Essa informalidade resulta em muita transparência em relação ao que você pensa dos outros e o que os outros pensam de você. Ou seja, trazendo isso pro mundo dos negócios, uma startup israelense não tem tempo de manter uma pessoa no time que claramente não é boa e que as pessoas ao redor também conseguem ver isso.

A hierarquia, o "fazer sala" ou "manda quem pode e obedece quem tem juízo" não vale muito por lá. E ao meu ver, isso tem muita relação com uma característica encontrada em bons empreendedores, que é a de não ter medo de errar, de ser você, de falar o que pensa e de desafiar o status quo, mesmo que isso signifique dizer para seu chefe que você não concorda com nada que ele disse até agora e com as decisões da empresa.Inclusive, li um exemplo incrível de como a equipe de desenvolvedores da Intel baseada em Israel conseguiu mudar a cabeça da matriz global apenas em cima dessa atitude de confrontar, mas com honestidade, e não fazer por fazer. Isso rendeu à empresa mais anos de vida, devido aos novos caminhos inovadores que foram tomados (exemplo dado no livro Startup Nation).

Outro dado chocante, que eu ligo à cultura como um dos fatores-chave, é o fato de Israel, um país com menos de 100 anos e 9 milhões de habitantes, ser o segundo país em número de empresas listadas na bolsa de Nova York. Isso é absurdo!



Enfim, os exemplos são diversos. Mas, pra mim, essa experiência foi um exemplo do que conseguimos fazer se acreditamos em quem somos, de onde viemos, e que podemos fazer a diferença onde estamos, podemos mudar as coisas para melhor. Independente da sua crença.

Pra mim, empreendedorismo é uma força de mudança, de criação, que se dada na mão das pessoas certas, pode mudar o mundo. Por isso, sou tão apaixonado por empreendedores competentes e ecossistemas de inovação.  E, se Israel fosse uma empresa, o seu sucesso, na minha opinião, teria se dado principalmente ao magnetismo da sua cultura.

Outros ecossistemas que visitei têm essa característica como ponto focal forte também, como o chinês e o do interior de São Paulo, por exemplo, cada um ao seu modo. Mas essa viagem a Israel foi a cereja do bolo. Sinto que encerrei um capítulo do meu estudo sobre o que faz grandes empreendedores e grandes ecossistemas de empreendedores, e estou muito grato de poder compartilhar com vocês por essa plataforma, via DezQuatroTrês.

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